13 de set. de 2020

Hiatos e ditongos


Por Glênio Cabral

Hiato: separação entre vogais de sílabas diferentes.

Na vida alguns hiatos são necessários. É que vogais diferentes nem sempre se entendem. Aliás, administrar diferenças exige maturidade e paciência, atributos que nem todo mundo tem. Por isso, às vezes, um traço para separar as vogais é urgente. 

E por falar em traço, gosto muito de um chamado bom senso. Ele aparece sempre que duas pessoas conversam e chegam à conclusão de que não dá mais. Esse hiato é doloroso, como todo hiato é, mas também é maduro, consciente e acima de tudo respeitador. Um hiato repleto de civilidade.

Mas há outros hiatos. Um deles é separado por um traço chamado Lei Maria da Penha. Nesses casos a pessoa é separada da outra por força da lei, sendo impedida, inclusive, de se aproximar até determinada distância. Um hiato vergonhoso.

Mas há quem viva um eterno ditongo. E nesse tipo de relação, pessoas não se separam por nada nesse mundo. À primeira vista tudo parece perfeito. Só que as coisas não são bem assim.

Ditongos são formados por vogais diferentes, e onde houver diferenças sempre haverá atrito. A questão é que, ao contrário do hiato, as vogais do ditongo suportam as crises e administram bem seus conflitos. Por isso continuam juntas, haja o que houver.  

É claro que nem todo ditongo é real. Alguns são só de fachada. Conheço vogais que permanecem juntas não porque se amam, mas por algum tipo de conveniência. São na verdade hiatos disfarçados de ditongos, um faz de conta gramatical. E seguem a vida assim, ditongos por fora e hiatos por dentro. 

A que conclusão podemos chegar? Talvez que viver bem, dentre outras coisas, é saber administrar os hiatos e ditongos que chegam até nós. Nem sempre será possível manter um ditongo. Algumas amizades são pra vida toda, já outras se desmancham em dolorosos hiatos. E assim, hiatos e ditongos se alternam em nossas relações afetivas, profissionais e familiares.

Alguém já disse que o ideal seria se só houvesse ditongos nessa caminhada. Será? Certamente que não. Algumas separações são mais do que necessárias, e eu diria mais: são libertadoras em sua essência. Sei de hiatos que produzem crescimento, amadurecimento, profissionalismo. Já alguns ditongos só contribuem para reforçar a forma pequena de enxergar a vida.

Mas, claro, toda regra tem sua exceção. E isso vale também para hiatos e ditongos.