Por Glênio Cabral
Na gramática normativa, “ninguém” é um pronome indefinido de pessoa. Exemplo: Há alguém em casa? Não, ninguém.
Mas por aqui as coisas funcionam dessa forma, se não estudar o alguém passa a ser ninguém, e aquele que pensava existir, acredite, descobre que na verdade nunca existiu. É só um vulto e nada mais.
Por isso a lista de alguéns que são ninguéns não para de crescer. Já ouviu falar do Zé Ninguém? Esse é ninguém porque é pobre. Ele não tem casa própria, não pode viajar no final do ano, não tem um salário digno, não anda com gente influente. É só um espectro, um fantasma, um suspiro, um quase nada, bem nadinha mesmo.
É fácil encontrar esse tipo nas filas de alguns hospitais públicos. Ele vive lá, mendigando um atendimento que é difícil de ser conseguido. E é difícil porque, convenhamos, ele é ninguém. O problema é que ele não sabe disso.
É engraçado, mas na cabeça dele ele é, sim, alguém. Então como dizer a essa pessoa que pra sociedade ele não existe como gente, e que é só um protótipo mal acabado de algo que tenta existir mas não consegue?
A boa notícia é que um ninguém nunca morre, já que pra todos os efeitos nunca foi alguém de verdade. Então, quando morre um Zé Ninguém, ninguém se incomoda. Quem se incomodaria por um “nada” ter morrido? Quem morre é alguém, nunca um ninguém.
Dizem que o Brasil é terra de ninguém. Bobagem. Desde quando ninguém tem alguma coisa por aqui? O certo é dizer que o Brasil é terra de alguém. Porque ninguém, nesse país, não tem vez nem em ditado popular.