Por Ricardo Novais
No meu bairro estão caindo as
casas velhas e brotando prédios moços. Meu bairro acordou trocado. As árvores
deram lugar ao cimento cru e ao asfalto cinza-escuro – cor do céu da
cidade. A chuva não é mais bem-vinda como antes, arrasa a família do dono da
padaria e a escola das crianças. O sol, tão esperado nesta terra, teima em
queimar os sonhos daqueles que dormem nas calçadas – calçadas estas
que viraram ruas de comércios.
Não me conformo. Derrubaram o
meu bar e no lugar botaram uma locadora de automóveis... Para que tanto carro
nesta cidade, meu Deus?! As moças da noite saíram das esquinas porque os
bulevares agora são das festas da prefeitura... Que será de minhas amigas, meu
Deus?!
Em busca do ouro, o pároco da
capela levantou-se, fez breve discurso e pediu que bebêssemos um brinde à
felicidade do bairro. Ao progresso! Aos novos prédios! Às novas casas de
negócios! Ao profeta Abraão!
Ora, caro leitor; mas tenho
saudade de quando os meus vizinhos garimpavam o futuro debaixo do pé de acerola
que ficava na praça do arrabalde ou em jogos de cartas e dominó no bar da Dona
Portuguesa. Ser feliz era mais simples no tempo de outrora... Apenas a velha
capela, restaurada, mas próxima da original, sobrou como testemunha da vida e
da época de nossos primeiros erros.