Por Tony Roberson de Mello Rodrigues
Estou jogando
pipoca aos pombos. Vejam. Praticar o amor às vezes é silenciar diante da
própria ansiedade.
É mesmo?
Preciso achar
meu verdadeiro lugar no mundo ou aprender a não me insatisfazer tanto com os
lugares que ocupo? Sou um eterno insatisfeito sim, há muito tempo consciente de
que nasceu para ir apodrecendo ao longo do caminho. E não é porque minha raiva alimenta
doenças que sua anulação me trará curas. A anulação de minha raiva, de minha irritação,
de minha náusea tra(i)rá curas.
Como fazer de
meu quarto muito mais um ninho para autoacolher-me que uma prisão para
autoenterrar-me cada vez mais? Não deve ser à toa, nem deve ser por timidez ou
preguiça que meu espírito me direciona a isso. Assim como o otimista não é
ingênuo, o insatisfeito não é burro. Eu ando é cansado de ser pedra a rolar em
meu infindável caminho.
Num mundo tão
mesquinho, a indiferença pode ser uma forma de solidariedade não confessada?
Tem muita coisa que não presta. Que não
presta para. Que não se presta a. E se disfarça de indiferença.
Se você faz algo
certo, não deve esperar reconhecimento. Se erra, deve se preparar para críticas
e até indelicadezas. Se faz além do que lhe pedem, geralmente é apenas nos
momentos em que erra que perceberão que você foi além, e virão atrás de você
para cobrar justificativas.
Não é porque eu
acredito na frase "rir de tudo é desespero" que eu vou deixar de rir
quando, muitas vezes, estiver desesperado, e muito menos deixar de me
desesperar.
Não é porque a
tristeza muitas vezes "afasta" as pessoas que eu vou deixar de me
apropriar do que sinto, e às vezes compartilhar isso. Eu quero tirar a casca do
machucado, enfiar o dedo, a mão, o braço, reenfiar-me por dentro da ferida e
elevar a dor a tal ponto que ela me proporcione algum maldito prazer, alguma
desgraçada paz.
Afinal, praticar
o amor às vezes é silenciar diante da própria ansiedade... não é mesmo?
Às vezes sim,
para evitar um rumo literário ao que lateja de mais podre nas minhas veias.
Acabou-se a
pipoca, voltem para seus ninhos.
Tony R. M. Rodrigues
é bacharelando em Letras, autor de Lágrimas
Lapidadas (1998) e verso
que te quero povo (2003) – download
grátis no site Recanto das Letras –,
coautor de Jovens poetas da
ETFSC (1999). Mantém o grupo Tratamento
textual, no Facebook, e o blog Rascunhos do meio. Revisor freelancer.