ELE está em um bar.
ELA chega.
ELE: Tava
preocupado.
ELA: Desculpa o
atraso.
ELE: Não tem
problema. Acabei de chegar.
ELA: Trouxe os
papéis?
ELE: Tão aqui.
ELA: Vi sua irmã
ontem.
ELE: Mesmo?
ELA: Disse que a
gente não devia.
ELE: Ela devia
cuidar da vida dela.
ELA: Também pensei
isso.
ELE: É fácil olhar
de fora.
ELA: Mas, fiquei
pensando no que ela me disse. Talvez ela tenha razão.
ELE: Olha, não me
confunde mais. Por favor.
ELA: Pede pra mim.
ELE: O quê?
ELA: Pede alguma
coisa.
ELE: Não. Não vamos
começar isso de novo.
ELA: Pede alguma
coisa ao garçom.
ELE: Ah.
ELA: Tô com fome.
ELE: O que você vai
querer?
ELA: Uma taça de
vinho.
ELE: Tinto.
ELA: Isso.
ELE: Merlot.
ELA: Exato.
ELE: (com a voz
grave) Isso me custou muito caro, sabiam? Mas, o que é o dinheiro, quando
estamos falando da vontade da minha menina, não é mesmo? Vocês viram o vestido
dela? Mandei aquele viadinho do costureiro comprar o melhor tecido que tivesse
na Europa!
ELA: (imitando a voz
de um homem) Viram o relógio do noivo? Eu que dei! Aquele lá carrega um
apartamento no pulso, graças a mim!
ELE: E o buffet?
ELA: (imitando a voz
de um homem) Por mim, eu tinha mandado matar logo uns cinco ou seis bois, uns
cabritos, uns dois porcos. Não gosto dessas frescuras de rodelinha de pão com
negocinho em cima, não, de torradinha com pastinha. Eu queria mesmo era um puta
churrasco! Mas, a mulher diz que não é de bom tom, que não é chique, não é
mesmo?
ELE: O seu pai é uma
figura.
ELA: Pede logo.
ELE: Tudo bem.
ELA: Pede pra eu
ficar.
Rafael Cal - Quando
era criança, sonhava em ser cosmonauta, mas acabou escrevendo. O texto, ainda
na adolescência, ganhou as páginas de fanzines, jornais, rótulos de palmito e
os palcos, como dramaturgia. Hoje, encontra lugar no blog http://fazendoumdrama.blogspot.com/ e, eventualmente, em um ou outro site que
acha os textos legais.