Por Marcia Barbieri
Seu sorriso empastado se escancarava em cima da mesa de mármore. Pequenas moscas pretas emprestavam um aspecto carnavalesco a seus beiços de gengivas opacas. Seus dentes escapavam pelas frestas omissas do tempo. As cortinas rasgadas riam da dor alheia. Janela indiscreta.
“essas putinha merece morrer com prazer”. Seu dedo se encharcava na buceta ressecada. O desejo tem lá seus disfarces. Não desanimava, continuava seu trabalho feito um operário obstinado. Revolução industrial. replay. replay.replay.
A moça usava um esmalte encarnado que disfarçava as luas fingidas da mão. Ele não se conformava, era excitante enxergar o roxo das unhas. Tentou roer pra descascar aquela bosta toda. Desistiu.
A vida e a morte eram análogas, cogitava. Um túnel. Uma luz. Um grito. Reminiscências do parto. O sangue. A placenta arremessada ao longe feito uma bola de capotão.
Enquanto socava a vadia, ficava imaginando que aqueles pelos continuariam ali, por anos e anos revivendo orgias. Larvas amarelas cavalgavam elegantes pelo seu ventre. Criavam cascos. Cada fincada derrubava novos insetos. A moça gozava catatônica.
Socava socava socava com força até o leite do seu pau destruir a arquitetura primitiva da vulva inerte.
Vira a moça de costas e continua com um vigor maior. Lúcido. Fica ali, até ver arrebentar do seu ânus mais uma vida de merda.
Moscas mortas pretas ainda copulam no seu sorriso.