Por Junior Cazeri
Teria a pornografia um papel importante na literatura? Marginalizada, ridicularizada, incompreendida, condenada, ela aparece, aqui e ali, às vezes disfarçada, incomodando com sua crueza despudorada, polemizando, causando nojo em alguns e reduzida a um gênero menor (se considerada) entre os letrados.
Esquece-se que, assim como outros gêneros, o que a pornografia representa para a literatura está muito além de suas palavras de baixo calão ou a indecência nos atos de seus protagonistas. Tal como a ficção científica é uma crítica ou análise metafórica de problemas presentes e reais, dilemas éticos de um futuro próximo ou paródia das expectativas e dos simulacros sociais, a pornografia representa uma bofetada no status quo social, seus valores, crenças e costumes. O que a literatura pornográfica faz é desmascarar o homem, não apenas desnudando sua carne, mas também sua psique, expondo o selvagem e o obsessivo presente em cada um em metáforas sociais que ferem as instituições “sagradas” e circundadas pela hipocrisia que nos guiam como família, casamento, trabalho e rotina. E, entre toda a orgia, revela a pobreza e a solidão na condição humana.
Não estou me referindo ao erotismo, cujo objetivo essencial é excitar, sem qualquer contexto, e com isso cai nas graças dos adolescentes e donas de casas, algo patético, que seria parodiado na pornografia. Gênios da literatura já trabalharam o tema, como o Marquês de Sade e Henry Miller, dois autores que admiro pela impetuosa ousadia de construir suas obras com o pior de cada personagem, sem heróis ou vilões. Apenas com o material humano, opaco, visceral.
Durante esta semana, o site O BULE está promovendo a Semana da Literatura Pornográfica, e seus autores capturaram com perfeição o significado do gênero na literatura, produzindo textos curtos e chocantes, que não excitam, e sim incomodam, impelem a leitura e provocam reflexão. Uma onda de fetiches e desejos revelados por trás do cotidiano. Um sopro quente em ambiente gelado.
Acompanhe, veja além das palavras e entenda. Se for capaz de tirar sua máscara e se despir… de preconceitos.
P.S: Este texto foi escrito espontaneamente pelo autor e publicado em seu blog Café de Ontem.