Por Geraldo Lima
Segue a caravana de beduínos há horas. Não sabe como chegou até ali nem como eles o acolheram. Marcham em silêncio, protegendo o rosto contra a fúria das partículas de areia.
As dunas vão surgindo diante deles como uma série interminável de pinturas abstratas. Linhas que se curvam, retorcem-se sob o sol furioso do meio-dia e desfazem-se ao menor sopro do vento.
A sede é medonha, nunca sentiu nada parecido. Teme morrer ali, nessas areias escaldantes, sem rever a garota de penugem dourada. Os camelos, certamente, sobreviverão:nesse ambiente hostil são superiores aos homens. Sonha com a aparição de um oásis cercado de palmeiras, cujas folhas tremulam ao longe tocadas de leve pela brisa que antecede a tempestade de areia.
A garota de penugem dourada deve estar lá, junto ao oásis, dançando para alegrar os viajantes sedentos. É uma odalisca de piercing no umbigo e batom vermelho realçando uma boca juvenil e tentadora.
Não vê a hora de chegar a esse oásis.
Mas as dunas se movem ao sabor do vento, e o cenário muda num piscar de olhos. Ao chegar ao topo de uma duna, vira-se e percebe que está só. Para seu assombro, um mundo bem diverso daquele que esperava encontrar pulsa frenético diante dos seus olhos.
>Continua no dia 27/10.