![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKXvgaSLwJjeOADNNY0_ElmCZ0tv89fBi_AE7O2qhSjD1tNPmVkVWJ6ZP1DkMFt4RLezmaA7NbVLientwHt8CbRr1_kZil_Yvhf2Scy5XjjuwP_6uKMP4shYK59JdAZMKlvQcsyc2CzJE/s400/nacos-de-necas-bule.jpg)
1
Reuniu os amigos, construiu quatro paredes sólidas.
E fez o telhado transparente
— pra dormir coberto de estrelas.
2
Sozinho em si mesmo, ele escuta seus outros eus:
um quer ver mundo e atravessar o mar
o outro quer fixar raízes.
Na confusão das vozes ele se perde. Sendo um, é três. Três querendo
ser um. E quando ele tenta falar, uma voz que também é sua vem lá do
fundo:
— Calaboca!
3
— Vou!
— Não vai!
— Volto, então.
— Não pode.
— Por quê?
— Porque não foi.
4
Numa tarde enlouquecida, a fome se encontrou com a
vontade de comer.
Mediram-se as duas, dos pés à cabeça.
— Estou com fome — disse uma.
— E eu, com vontade de comer — falou a outra.
A fome então abriu a boca para dar o bote. Mas a vontade de comer foi
mais rápida.
5
A solidão se lamentava por ser tão só.
A companhia veio então pra consolar.
Nesse dia a solidão deixou de existir.
Agora quem se lamenta é a companhia.