24 de ago. de 2010

CorraAtrásDessesLivros (3ª edição)

> CLAUDIO PARREIRA sugere:
A cidade dos padres, de Deonísio da Silva – Talvez um dos melhores momentos do escritor Deonísio da Silva: A cidade dos Padres é composta por duas narrativas que se cruzam o tempo inteiro, uma falando sobre a ditadura e a outra sobre o Marquês de Pombal, o “Déspota esclarecido”. Escrito numa linguagem bem humorada, corrosiva, pontuada de aliterações e trocadilhos, não é, no entanto, uma peça destinada apenas ao riso fácil: é uma profunda reflexão sobre o Brasil e as implicações de escrever.
Fabulário geral do delírio cotidiano, de Charles Bukowski - Recomendar o Velho Buk geralmente é difícil, mas este Fabulário tem algo especial: é mesmo um mapa do inferno da vida do autor em Los Angeles, um desfile grotesco e surpreendente de personagens saídos de um mundo frenético que a sociedade bem comportada insiste em ignorar. Contos intensos recheados de Brahms, uísque barato e poesia.

> GERALDO LIMA sugere:
Ilíada, de Homero, na excelente tradução feita por Haroldo de Campos – Minha primeira leitura da Ilíada foi em prosa, numa edição antiguíssima da Livraria Sá da Costa – Editora Lisboa, de 1945. Em verso, é possível ouvir com mais intensidade o tinir das armas e o baque dos corpos tocando o chão. É o épico na sua forma mais acabada.
Poema Sujo, de Ferreira Gullar – Leitura essencial por nos revelar o poder evocatório da linguagem. Foi com a força da linguagem poética que Gullar, no exílio, deu corpo a esse testemunho, pois temia que lhe calassem a voz. Ele vai do termo chulo ao culto, sempre num lirismo intenso, rememorando o passado na cidade de São Luís. É, sem dúvida, a obra-prima do poeta maranhense.

> MAURO SIQUEIRA sugere:
Mãos de Cavalo, de Daniel Galera – Você se lembra do momento exato da sua vida em que se tornou adulto? O rito de passagem? Tenho especial apreço por “romances de formação” e um dos últimos (e bons) que li é este. Com enorme verve, Galera nos coloca a par da vida de Hermano, um cirurgião, que está a caminho de uma montanha na Bolívia e que rememora os tempos em que era chamado de Mãos de Cavalo e como as escolhas moldaram o seu presente. Tenso, divertido, sinérgico, violento sob certos aspectos. Fora isto, é um livro que dialoga bem com as referências pop dos anos 90. Sem dúvida já é um livro de uma geração.
A revolução dos bichos, de George Orwell – “Todos os animais são iguais mas alguns são mais que outros". “Quatro pernas bom, duas pernas ruim". Imagine se um dia os ani... Não imaginem nada, leiam o livro! É a melhor crítica a sistemas de poder corrompidos pelo próprio poder. Um estudo de caso da experiência russa.

> RODRIGO NOVAES DE ALMEIDA sugere:
Sagarana, de João Guimarães Rosa – Pelos experimentos lingüísticos, pela inventividade soberana e pelo conto “O burrinho pedrês”, a cada leitura um arrebatamento.
Pilares da Terra, de Ken Follett – Romance que se passa na Inglaterra medieval, durante a construção da catedral de Kingsbridge. Tem a continuação Mundo sem fim, que vale a pena ler também (fico na dúvida se gostei mais do primeiro ou do segundo).

> ROGERS SILVA sugere:
Sobre heróis e tumbas, de Ernesto Sábato – Esqueça por um momento Borges e Cortázar. Esqueça o contemporâneo Piglia. O melhor escritor da literatura argentina, a meu ver, é Ernesto Sábato, e este seu romance de 600 páginas, uma obra-prima. Um livro louco, intenso, com personagens loucos e intensos, e uma boa sugestão para leitores loucos ou insossos, por duas razões – ou para se identificar ou para se desestruturar.
A noite escura e mais eu, de Lygia Fagundes Telles – Para cada leitor, há aqueles livros que mudaram sua vida. Quais livros mudaram sua vida, querido leitor? Entre aqueles que me arrebataram, me desestruturaram, me deixaram perplexo, eis esse livro de contos marcante, cheio de emoção e vida. Duvido que saia incólume de sua leitura.