10 de jun. de 2010

Nacos de Necas & Outras Histórias - 01


Por Claudio Parreira


“Combino palavras com muito silêncio.

Poucas palavras.

As palavras que gritam.”



Aborto Celeste, p. 89

H.P. BRUESCH
1521


1
De todos os modos de fazer
eu prefiro o fazer de menos.
Não por medo
– que escrever já é uma coragem
mas por preguiça mesmo
essa musa vagabunda
minha parceira
de ócios e ofícios.

2
Antigos amantes, bruxa e inquisidor se encontram no cárcere.
– O fogo libera a tua alma – ele diz.
– E o desejo aprisiona o teu corpo – ela responde.
Mais tarde o Santo Ofício queima a bruxa. Mas quem arde é o inquisidor.

3
Hoje encontro no espelho um rosto de ontem.
Aquilo que fui.
O sorriso que dei.
Ainda bem.
Triste é o espelho que revela o que vai ser.

4
Ele acorda de madrugada suando e reclamando das garras e dos leões que rugem.
– É sonho – diz a mulher sem abrir os olhos. – Vê se dorme, pô!
De manhã ela acorda e a poça de sangue no lençol dá notícias do futuro.

5
Tenho um nome que não me chama.
Uma religião que não é minha.
E um monte de deveres que não me pertencem.
O silêncio e as palavras são os meus únicos bens.
Acrescidos de uma solidão que não cabe aqui.