2 de mar. de 2010

Inconsciente sensível?

Por Mary Carvalho

Vai a onda Vem a nuvem Cai a folha Quem sopra meu nome? Raia o dia Tem sereno O pai ralha Meu bem trouxe um perfume? O meu amigo secreto Põe meu coração a balançar Pai, o tempo está virando Pai, me deixa respirar o vento Vento (...) [Trecho de A ostra e o vento, de Chico Buarque]

O cinema, a literatura, a fotografia, as artes plásticas e qualquer outra manifestação artística são capazes de mexer com o inconsciente humano mais do que podemos estimar. Sensações boas ou ruins podem ser despertadas ao ouvir um som, sentir um cheiro ou no simples admirar de uma obra de arte. Podem até mesmo ocorrer alucinações, aceleração de batimentos cardíacos e desequilíbrio, o que chamamos de síndrome de Stendhal – pseudônimo do escritor francês que foi o primeiro a notificar essas sensações durante a observação de obras de arte.

Atire a primeira pedra quem nunca ficou sensibilizado com alguma música, filme ou obra de arte! Eu digo a vocês: posso não ter tido esta síndrome, mas o que senti ao assistir o filme A ostra e o vento, de Walter Lima Jr., foi uma espécie de amostra grátis.

Este filme, de 1997, conta a história da adolescente Marcela e seu pai, José, vivendo em uma ilha no meio do oceano - praticamente afastados do mundo -, tendo como único meio de contato com o exterior da ilha um grupos de marujos que os visitam algumas vezes ao ano. Marcela, no despertar da descoberta de sua sexualidade, tem uma paixão arrebatadora pelo vento; paixão essa que é barrada pela possessividade do pai, um faroleiro cheio de silêncios e segredos.

Totalmente intrigante, A ostra e o vento inicia com Daniel – um homem já velho, grande amigo de Marcela – encontrando a ilha vazia e o diário da adolescente abandonado ao chão. A partir daí, toda trama se desenrola, num misto de memórias do próprio Daniel, do seu amigo Pepe e de interpretações feitas a partir da leitura do diário.
Ah, e eu não poderia deixar de falar também da música-tema, de mesmo nome e cantada por Chico Buarque, que assim como toda atmosfera do filme simula muito bem o balançar das ondas e o sopro do vento.

Fica a dica: assistam, e aí sim vocês poderão entender o porquê da minha inquietude e falta de sono depois de tê-lo assistido. .

Mary Carvalho - Técnica em Design de Produto no Instituto Federal do Maranhão, futura estudante de Arquitetura na UEMA. Adoradora de livros, filmes e música, violonista nas horas vagas e pseudo-poetisa. Bloga em http://badu-laques.blogspot.com/
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* O filme A ostra e o vento, dirigido por Walter Lima Jr., é uma adaptação do romance homônimo de Moacir C. Lopes, o entrevistado d'O BULE de amanhã, dia 03.
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